Quando os líderes de alguns países da Europa decidiram unir-se sem perguntar nada a ninguém, criando uma união supranacional que supervisionaria a produção de carvão e de aço, tinham um objectivo claro: o desejo de paz depois de duas guerras pírricas. A ideia era integrar tanto os países, fazê-los tão dependentes uns dos outros, que eles não mais voltariam a andar em guerra. A crescente complexidade das suas relações moldou a essa união, estreitando-a em relação à convergência entre os países em domínios económicos e geopolíticos, e alargando-a na concepção de um modelo democrático e social.
É neste último ponto que reside, a meu ver, o elo de ligação entre a União criada por esses líderes políticos e os povos europeus. Só assim se compreende o facto de cidadãos de diferentes origens, ainda que em parte com uma história comum, apoiarem um sistema complexo e supranacional por eles não criado: o sonho popular de prosperidade dentro do welfare state.
A ideia da elite não morreu ainda, existindo a meu ver um esforço, ainda que meramente formal, de alargar a União em diversos níveis, mas o sonho popular está seriamente em causa. E esse é que é hoje o grande problema da União Europeia, e é que um problema que parecendo económico é na verdade político.
A raiz do problema da Europa é económico-financeira, e tem que ser absolutamente notável para se ver personalidades tão dispares como Margaret Thatcher e Carlos Carvalhas de acordo: o Euro deu cabo disto tudo. Foi mal preparado, não conseguindo acomodar as grandes potências económicas, como a Alemanha, e países condenados a sentarem-se de sapatos rotos e casaco remendado à mesa dos ricos, como Portugal e Grécia, como disse o saudoso e brilhante Gabriel García Márquez. Foi um erro de arquitectura tremendo, com gravíssimas implicações.
A crise meteu o Euro e a Europa à prova e ambos falharam redondamente. É aqui que morre o sonho popular do welfare state, e não morre com a existência da crise: morre com a resposta à crise. Se a União Europeia já tinha um défice democrático, a onda de tecnocracias que viram na austeridade a melhor solução para a crise, porque era a única solução para a crise, reduziu ainda mais a tomada de decisões democráticas na Europa. E pior: se os povos já estavam esganados políticamente, mais o ficaram económicamente. Uma vaga de desmantelamento dos serviços públicos essenciais ao Estado, de privatizações estilo Feira da Ladra, de liberalizações do mercado de trabalho e de libertinagem autêntica do sistema bancário aliadas a um fardo fiscal desumano sobre os mesmos de sempre deixaram os tecidos sociais destruídos e as economias da Europa de rastos.
A Europa não democrática que impõe uma e só uma solução que finaliza numa e só numa conclusão, o agravamento da situação económica dos povos, permitiu, assim, o aparecimento e a penetração de movimentos políticos alternativos que, em certos casos, colocam em causa a própria União Europeia. Da Espanha à Grécia, da Itália à Dinamarca, do Reino Unido à França, um pouco por toda a Europa, surgiram movimentos políticos com uma força notável que se aproveitaram das contradições da União Europeia e do populismo, que nunca sai de moda, para ganharem um lugar de destaque nas cenas políticas dos respectivos países.
Há casos, a meu ver, menos preocupantes que outros. Casos de partidos pró-europeus que defendem, no entanto, um modelo político e económico diferente para a Europa. Mas há casos que, diferentemente, são assumidamente anti-europeus, nacionalistas e populistas. É com estes que a Europa tem que se preocupar, porque põe em causa a sua própria existência.
Enquanto a Europa continuar a pregar a mesma missa que condena milhões e milhões à pobreza e entrega milhões e milhões às elites, de uma maneira não democrática, vai estar a cavar a sua sepultura. Vai estar a destruir os tecidos sociais e a dar um excelente bode expiatório a partidos populistas e nacionalistas para subirem nas intenções de voto, que podem aproveitar, ainda, a má gestão Europeia na questão dos refugiados. É por isso que digo que, apesar da raiz do problema ser económico-financeira, o problema é um problema político, e é por isso que acho que situações como a Grécia, por exemplo, não são doença mas sim sintoma.
São tempos difíceis para isto mas eu Europeu me confesso. Acredito numa Europa baseada na democracia, na igualdade e na solidariedade, com uma moeda forte a unir países fortes e solidários. O aparente medo imediato dos nacionalismos quase que desapareceu das mentes dos políticos e da comunicação social, mais interessada na novela Grécia vs. Eurogrupo, mas é uma ameaça que não desapareceu. Se a Europa continuar pelo caminho da austeridade e do afastamento político dos cidadãos o sonho europeu pode desaparecer definitivamente e mergulhar a Europa, de novo, num terrível pesadelo.
É neste último ponto que reside, a meu ver, o elo de ligação entre a União criada por esses líderes políticos e os povos europeus. Só assim se compreende o facto de cidadãos de diferentes origens, ainda que em parte com uma história comum, apoiarem um sistema complexo e supranacional por eles não criado: o sonho popular de prosperidade dentro do welfare state.
A ideia da elite não morreu ainda, existindo a meu ver um esforço, ainda que meramente formal, de alargar a União em diversos níveis, mas o sonho popular está seriamente em causa. E esse é que é hoje o grande problema da União Europeia, e é que um problema que parecendo económico é na verdade político.
A raiz do problema da Europa é económico-financeira, e tem que ser absolutamente notável para se ver personalidades tão dispares como Margaret Thatcher e Carlos Carvalhas de acordo: o Euro deu cabo disto tudo. Foi mal preparado, não conseguindo acomodar as grandes potências económicas, como a Alemanha, e países condenados a sentarem-se de sapatos rotos e casaco remendado à mesa dos ricos, como Portugal e Grécia, como disse o saudoso e brilhante Gabriel García Márquez. Foi um erro de arquitectura tremendo, com gravíssimas implicações.
A crise meteu o Euro e a Europa à prova e ambos falharam redondamente. É aqui que morre o sonho popular do welfare state, e não morre com a existência da crise: morre com a resposta à crise. Se a União Europeia já tinha um défice democrático, a onda de tecnocracias que viram na austeridade a melhor solução para a crise, porque era a única solução para a crise, reduziu ainda mais a tomada de decisões democráticas na Europa. E pior: se os povos já estavam esganados políticamente, mais o ficaram económicamente. Uma vaga de desmantelamento dos serviços públicos essenciais ao Estado, de privatizações estilo Feira da Ladra, de liberalizações do mercado de trabalho e de libertinagem autêntica do sistema bancário aliadas a um fardo fiscal desumano sobre os mesmos de sempre deixaram os tecidos sociais destruídos e as economias da Europa de rastos.
A Europa não democrática que impõe uma e só uma solução que finaliza numa e só numa conclusão, o agravamento da situação económica dos povos, permitiu, assim, o aparecimento e a penetração de movimentos políticos alternativos que, em certos casos, colocam em causa a própria União Europeia. Da Espanha à Grécia, da Itália à Dinamarca, do Reino Unido à França, um pouco por toda a Europa, surgiram movimentos políticos com uma força notável que se aproveitaram das contradições da União Europeia e do populismo, que nunca sai de moda, para ganharem um lugar de destaque nas cenas políticas dos respectivos países.
Há casos, a meu ver, menos preocupantes que outros. Casos de partidos pró-europeus que defendem, no entanto, um modelo político e económico diferente para a Europa. Mas há casos que, diferentemente, são assumidamente anti-europeus, nacionalistas e populistas. É com estes que a Europa tem que se preocupar, porque põe em causa a sua própria existência.
Enquanto a Europa continuar a pregar a mesma missa que condena milhões e milhões à pobreza e entrega milhões e milhões às elites, de uma maneira não democrática, vai estar a cavar a sua sepultura. Vai estar a destruir os tecidos sociais e a dar um excelente bode expiatório a partidos populistas e nacionalistas para subirem nas intenções de voto, que podem aproveitar, ainda, a má gestão Europeia na questão dos refugiados. É por isso que digo que, apesar da raiz do problema ser económico-financeira, o problema é um problema político, e é por isso que acho que situações como a Grécia, por exemplo, não são doença mas sim sintoma.
São tempos difíceis para isto mas eu Europeu me confesso. Acredito numa Europa baseada na democracia, na igualdade e na solidariedade, com uma moeda forte a unir países fortes e solidários. O aparente medo imediato dos nacionalismos quase que desapareceu das mentes dos políticos e da comunicação social, mais interessada na novela Grécia vs. Eurogrupo, mas é uma ameaça que não desapareceu. Se a Europa continuar pelo caminho da austeridade e do afastamento político dos cidadãos o sonho europeu pode desaparecer definitivamente e mergulhar a Europa, de novo, num terrível pesadelo.