O Wagner era um conhecido anti-semita. Quando o maestro Daniel
Barenboim (um judeu israelo-argentino) conduziu uma ópera de Wagner em
Israel foi criticado. Defendeu-se dizendo que, apesar da pessoa de
Wagner ser censurável, a sua obra não era e não tinha uma única nota
anti-semita. É mais difícil discernir o homem da arte nas notas do
Wagner do que, por exemplo, em “O Nascimento de uma Nação” do D. W.
Griffith. Um “Fá” e um “Sol Sustenido” são sempre um “Fá” e um “Sol
Sustenido”, enquanto que um filme que
argumenta que o KKK foi o cavaleiro alado que salvou a América dos
negros estúpidos e alcoólicos não deixa muito espaço à consideração
sobre se estamos ou não perante uma obra de arte discriminatória, pois
essa discriminação é feita numa escala em que só poderia ter sido criada
por um homem com semelhantes preceitos.
Não foram as obras do Wagner ou do Griffith, todavia, que me impeliram
para este texto, mas são um bom ponto de partida. A questão que quero
colocar é a seguinte: quando estamos perante uma obra de arte, quando é
que começa o homem e acaba a obra? Devemos separar a obra do artista, ou
devemos rejeitar o filme pelo seu realizador, o livro pelo seu
escritor, a música pelo seu compositor? A obra de um artista tem valor
por si só, mesmo quando foi criada por um ser humano que fez sofrer
outras pessoas? Será o impacto que a obra cria em nós mais ou menos
importante que as acções do seu criador?
Creio que são questões muito complicadas. Admiro o Cohen (neste caso estou claramente a pecar por defeito) a Patti Smith, o Zeca Afonso, o João Ribas, o Fellini, o Kubrick, a Elis Regina, o O’Neill, o Robert Capa, o Galeano, o Eduardo Gageiro, o Gabo, o Steinbeck e tudo isto porque amei a sua arte, que me levou a conhecer o autor, e não consigo dissociar a obra do criador. É verdade que enquanto a avaliação que se faz de alguém é um julgamento moral, quando colocada na arte essa avaliação não se aplica, pois é um julgamento estético. Mas quando vemos a arte para além do plano estético, quando analisamos a mensagem, o seu contexto, quando analisamos esse pedaço dentro da obra do criador, não se consegue tentar perceber isso sem tentar perceber o autor.
O que devemos fazer, então, à arte daqueles que, para os padrões normais e legais das sociedades modernas, foram por caminhos menos honrosos? Devemos focar-nos principalmente no plano estético, entender a arte como uma criação com vida própria e esquecer o autor? Ou devemos afastar e não glorificar a arte daqueles que fizeram sofrer outros seres humanos? Em suma, como questiona o poema do W. B. Yeats, “como isolar da dança a dançarina"?
Creio que são questões muito complicadas. Admiro o Cohen (neste caso estou claramente a pecar por defeito) a Patti Smith, o Zeca Afonso, o João Ribas, o Fellini, o Kubrick, a Elis Regina, o O’Neill, o Robert Capa, o Galeano, o Eduardo Gageiro, o Gabo, o Steinbeck e tudo isto porque amei a sua arte, que me levou a conhecer o autor, e não consigo dissociar a obra do criador. É verdade que enquanto a avaliação que se faz de alguém é um julgamento moral, quando colocada na arte essa avaliação não se aplica, pois é um julgamento estético. Mas quando vemos a arte para além do plano estético, quando analisamos a mensagem, o seu contexto, quando analisamos esse pedaço dentro da obra do criador, não se consegue tentar perceber isso sem tentar perceber o autor.
O que devemos fazer, então, à arte daqueles que, para os padrões normais e legais das sociedades modernas, foram por caminhos menos honrosos? Devemos focar-nos principalmente no plano estético, entender a arte como uma criação com vida própria e esquecer o autor? Ou devemos afastar e não glorificar a arte daqueles que fizeram sofrer outros seres humanos? Em suma, como questiona o poema do W. B. Yeats, “como isolar da dança a dançarina"?