“O Sal da Terra” (1954), de Herbert Biberman, é uma obra intemporal.
Expõe, na década de 50 tão bem quanto neste século, as desigualdades de
raça, de género e de classe através de uma greve de mineiros. Mostra
tanto o racismo do insulto verbal quanto o racismo económico, a
discriminação existente nas diferentes condições de vida dos
trabalhadores americanos e mexicanos, e a luta pela justiça racial e a
paridade económica dos trabalhadores mexicanos. Mostra as violações na
dignidade dos imigrantes e dos
deslocados, o antagonismo entra a produção e a gestão, e o poder quase
infindável das classes altas. E mostra, e talvez seja uma das suas
características mais notáveis, a luta de um grupo de mulheres, que se
liberta das suas amarras (as lides da casa, a opressão dos maridos, a
educação das crianças) e luta pelo que considera justo. Mostra, nos
olhos de Esperanza Quintero (retratada por Rosaura Revueltas, uma das
poucas actrizes profissionais do filme) que a mulher mais bela é a
mulher que luta.
"O Sal da
Terra" é uma obra intemporal, e um dos maiores traços de genialidade
artística é a intemporalidade. As lutas que o filme mostra são guerras
que ainda nos faltam vencer: a guerra pela igualdade racial, pela
igualdade económica, pela igualdade de género. Esta é a parte triste da
genialidade do filme: é que isso não está relacionado com a genialidade
de Biberman ou com a análise acutilante e premonitória de Michael
Wilson, o guionista. Eles não sabiam que o filme ia fazer sentido 60
anos depois, nem sequer pensaram nisso. Isso está relacionado com um
sistema podre que não mudou e que, ainda hoje, é liderado por aqueles
que os mineiros e as suas mulheres combateram.