O que é que o Vietname, a Síria e o Iraque têm em comum? São longe, falam uma língua difícil e são um óptimo sítio para os Estados Unidos perderem soldados sem sentido.
Numa lógica questionável, o terrorismo é hoje, no entendimento americano, uma ameaça relativamente semelhante ao que era o comunismo à 50 anos: difusa, amaneirada, uma excelente justificação para um aparelho de segurança enorme e para a restrição de liberdades civis, para além de ser um excelente bode expiatório. Sem querer desdramatizar a situação e a ameaça que efectivamente é, quero sim estabelecer paralelos para justificar a minha opinião: um maior envolvimento americano na região não é desejável.
A máxima, muito útil para educar crianças, de que quem parte velho compra novo, ou por outras palavras, quem parte arranja, não é a meu ver sempre útil na política. É que se não desculpo os Estados Unidos pela contribuição para ajudar a criar aquilo que é hoje a ameaça do ISIS, acredito que um envolvimento maior do que aquele que agora tem só será prejudicial à região, ao Ocidente e aos Estados Unidos.
Vejo dois problemas principais, em dois períodos distintos: no imediato e no futuro. No imediato, uma intervenção americana maior do que aconselhamento militar e bombardeamentos aéreos, nomeadamente com boots on the ground, seria uma situação favorável ao ISIS: conseguiriam usar ainda mais a narrativa de que os Estados Unidos lutam contra o Islão, o que poderia garantir mais apoio ao ISIS, e mostrar que eles são a grande vanguarda armada na luta contra o Ocidente em nome do Islão. A situação não é desejável até porque a zona é um cemitério de exércitos. Se os Estados Unidos têm conhecimento disso, que o digam também os Russos e os Ingleses.
No futuro, haveria outro problema. É que, apesar de tudo, os Estados Unidos demonstraram já, de uma maneira ou de outra, saber derrotar terroristas. A grande questão é que não souberam deixar algo melhor que os regimes autoritários que a região tem tido. A democracia não se exporta como se faz com a Coca-Cola.
Tudo isto para dizer que na minha visão os Estados Unidos têm que aprender com os seus erros e moderarem-se na intervenção e na gestão que fazem da situação. Mais do que derrotar o ISIS, é preciso pacificar a região e estabilizar os Estados, para impedir novas situações destas. Mas essa é uma questão que, para mim, passa mais pelo eixo Irão/Arábia Saudita do que por Washington, e a desenvolver noutras andanças.
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