19/01/2018

Do feminismo pop

Acho que há uma tendência para despolitizar alguns temas, prevalecendo a acção individual e o seu elogio, a atitude, em vez das estruturas e da acção política colectiva. A onda feminista é um bom exemplo disso. Creio que prevalecem os discursos de celebridades, as “hashtags”, o “empowerment”, os elogios às mulheres que chegam a CEO de grandes empresas, às modelos que confrontam o statu quo com as suas pernas não depiladas.

As redes sociais e o seu culto ao individualismo têm algo que ver com isso, porque esses acontecimentos são mais facilmente virais e partilháveis, e é isso que define esta onda feminista. Mas acredito também que o impacto que o sexismo e a sociedade patriarcal têm na esfera privada e pessoal de cada mulher deva impelir para isso. Afinal, um problema que ataca individualmente pode ter uma resposta individual.

Eu não tenho absolutamente nada contra isso. Acho que todas as formas de luta - se é disso que se trata – são legítimas. Mas é preciso escolher como queremos fazemos a luta. Podemos acreditar que as imagens e os exemplos das mulheres que sobem as escadas do dinheiro e do poder se traduzem em benefícios para o resto das mulheres do mundo, e que isso é suficiente. Ou, então, podemos politizar a questão e lutar contra um sistema que legitima e aumenta as desigualdades, que precisa delas para se manter, que tem nele grupos sub-representados e em desvantagem estrutural.

A cultura pop pode ser um óptimo instrumento para disseminar as ideias pela sociedade. Mas uma mudança efectiva e real só se consegue, creio, politizando a questão e levando-a ao debate, à rua, ao voto.

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