Acho que há uma tendência para despolitizar
alguns temas, prevalecendo a acção individual e o seu elogio, a atitude,
em vez das estruturas e da acção política colectiva. A onda feminista é
um bom exemplo disso. Creio que prevalecem os discursos de
celebridades, as “hashtags”, o “empowerment”, os elogios às mulheres que
chegam a CEO de grandes empresas, às modelos que confrontam o statu quo
com as suas pernas não depiladas.
As redes sociais e o seu culto ao individualismo
têm algo que ver com isso, porque esses acontecimentos são mais
facilmente virais e partilháveis, e é isso que define esta onda
feminista. Mas acredito também que o impacto que o sexismo e a sociedade
patriarcal têm na esfera privada e pessoal de cada mulher deva impelir
para isso. Afinal, um problema que ataca individualmente pode ter uma
resposta individual.
Eu não
tenho absolutamente nada contra isso. Acho que todas as formas de luta -
se é disso que se trata – são legítimas. Mas é preciso escolher como
queremos fazemos a luta. Podemos acreditar que as imagens e os exemplos
das mulheres que sobem as escadas do dinheiro e do poder se traduzem em
benefícios para o resto das mulheres do mundo, e que isso é suficiente.
Ou, então, podemos politizar a questão e lutar contra um sistema que
legitima e aumenta as desigualdades, que precisa delas para se manter,
que tem nele grupos sub-representados e em desvantagem estrutural.
A cultura pop pode ser um óptimo instrumento para disseminar as ideias pela sociedade. Mas uma mudança efectiva e real só se consegue, creio, politizando a questão e levando-a ao debate, à rua, ao voto.
A cultura pop pode ser um óptimo instrumento para disseminar as ideias pela sociedade. Mas uma mudança efectiva e real só se consegue, creio, politizando a questão e levando-a ao debate, à rua, ao voto.
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