08/11/2018

Do Leonard Cohen

Lembro-me bem da primeira vez que ouvi falar do Leonard Cohen. Era 2009. Eu tinha 16 anos e arrumava caixas de fruta na mercearia da minha mãe a cantarolar Led Zeppelin e Tara Perdida. Ouvia Black Sabbath, Clash e Rush, o velho rock and roll de guitarradas e raiva a sair em forma de power chords (e Zeca Afonso, claro). E, naquela noite, estava no Estádio de Alvalade com o meu tio, a poucos minutos de começar o concerto dos AC/DC, quando passou um anúncio de um concerto do Cohen nos ecrãs gigantes. O meu tio apontou para o ecrã: “este gajo é fixe”. Olhei. Onde ele viu o fixe, eu vi um velho de chapéu e fato preto a cantar uma espécie de valsa, achei na altura, provavelmente ouvida por outros velhos de fato preto que tiraram o chapéu por deferência aquele tipo com nome judeu. Era a “Dance Me to the End of Love”. Não gostei, e eu ia ver o Angus Young a partir aquela merda toda, não tinha tempo para velhos angustiados.


Nessa noite, quando cheguei a casa, fui pesquisar o velho. O nome, por acaso, não me saiu da memória. E lembro-me do assombro instantâneo que senti. Percebi na altura que algo havia mudado. Nessa noite, sei-o hoje, tive um guarda-roupa à minha frente. E eu escolhi o fato preto e o chapéu, para usar a vida toda.


(o concerto dos AC/DC foi óptimo e, entretanto, já agradeci ao meu tio)

Sem comentários:

Enviar um comentário