Há uma tribo andina que diz que quando nós temos muitas dúvidas significa que os nossos antepassados também as tiveram e nunca as resolveram.
Não é que acredite, mas conheço o meu pai e conheço-me. Somos homens cheios de dúvidas. Assim o postulado andino faz sentido porque imagino que, entre a dura vida do campo e a nobre arte de fazer e criar filhos (foram 11), o meu avô paterno não deve ter tido tempo para responder a todas as perguntas que a sua existência lhe colocou.
Assim, herdámos uma casita na aldeia, uns terrenos bons para não se fazer nada deles, e uma porradona de questões e dúvidas existenciais, comichões intelectuais, perguntas que nem sabemos bem conceptualizar.
Confesso que, a fundo, não sei como o meu pai lida com este facto. Eu leio. Ouço álbuns. Vejo cidades, quadros, esculturas. Vejo filmes. A arte serve-me numa função dupla: se nela procuro a resposta para questões que às vezes nem sei quais são, é ela também o meu escape, o meu refúgio, para conviver com o marasmo e com o facto de não conseguir responder a tudo.
O humor é, provavelmente, a arte que melhor lida com esta dialética, a de procurar as respostas e chorar - ou rir para não chorar - por nunca as encontrar. Os Monty Python são a quinta-essência disto tudo. Nem vale a pena falar da sua importância cultural, dos desenvolvimentos que trouxeram ao humor, da influência. Tiveram tanta filosofia como Sartre e Camus. Do destino ao nihilismo, do epicurianismo à morte, da Caverna de Platão á lógica de Aristóteles, da felicidade ao sentido da vida. Está lá tudo, e parido de uma maneira genial que mais ninguém conseguiu emular. Aprendi – e aprendo – muito com eles.
Aos meus filhos, não deverei deixar muito. Se não ficar rico e famoso com a minha banda, deixarei os bens que a minha vida de contabilista me permitir, mais uma casita na aldeia, uns terrenos bons para não se fazer nada deles, e uma porradona de questões dúvidas existenciais, comichões intelectuais, e perguntas que eles nem saberão bem conceptualizar. Mas menos que as que o meu avô me deixou, porque ele nunca viu Monty Python.
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