Portugal sofre um pouco do síndrome da ambulância atrasada. Vamos cheios de boas intenções, mas tarde. Não conseguimos ter um pensamento de prospectiva. Precisamos que eventos despoletem o debate, a preocupação, a percepção que afinal precisamos de investir aqui ou ali.
O caso mais recente é o do Serviço Nacional de Saúde. Caralho, andaram anos e anos a tratar do seu desmantelamento. Houve uma estratégia: o desinvestimento desculpado pelos défices e pela dívida, o aumento das taxas moderadoras, o encerramento de serviços e de postos, a desvalorização do seu pessoal. Entre outras milhentas coisas que não vale a pena aqui referir porque a vossa quarentena terá certamente mais que fazer.
O objectivo? Torná-lo ineficiente, com falhas, para puderem entregar a saúde a grupos económicos já que o Estado, coitadinho, não dá conta dele. Privatizar.
É claro que depois dá merda. Daqui a pouco, se o momentum não se perdeu de ontem, vai tudo para a varanda num gesto patriótico cantar o hino em apoio aos enfermeiros e aos médicos. [Nota: num grupo do bairro de Alvalade, no Facebook, alguém sugeriu que cantassem a Grândola, mas depois muitos disseram que isso era demasiado comunista. Fachos.]
Isso é bonito. É um gesto bonito para quem merece. E se é verdade que esta altura serve só e apenas para cuidar de quem precisa e para todos nos unirmos contra um vírus lixado, não é menos verdade que após isto um período de reflexão terá que existir.
Esta é uma questão primordial. Se queremos que isto deixe de ser um sítio - ainda por cima mal frequentado, como dizia o Almada - e passe a ser um país que cuida dos seus, o SNS (e a educação, já agora) tem que ser uma prioridade geracional.
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