08/04/2021

Da habitação

 A CM de Lisboa lançou, mais uma vez, o programa da Renda Acessível para jovens da classe média. É um programa com valor, ainda que meramente simbólico para resolver o problema da habitação na cidade de Lisboa. Mas é um passo, dos muitos que precisam ser dados, e que me deixou a pensar nesse problema.

É claro que a Câmara tem uma quota parte de responsabilidade. Política é, muitas vezes, escolher o menor de dois males, mas a total selvajaria do mercado imobiliário decorrente dos efeitos do turismo (Lisboa tem dos maiores rácios de casas de Alojamento Local por residente a nível mundial, o maior proprietário tem mais de 430 casas, e os 25 maiores proprietários têm cerca de 3000 casas, por exemplo) foi uma opção política.

Há, no entanto, outro problema maior. O endividamento das famílias foi, principalmente, potenciado pelo incentivo do Estado à compra de casa própria, nos últimos 40 anos, que tornou os bancos reféns do mercado imobiliário. A chave está aqui.

Os bancos não estão interessados em que o preço das casas desça. Os fundos de investimento imobiliário, cujos lucros dependem do aumento do preço das casas, também não. O Estado assobia para o lado e desresponsabiliza-se da sua função constitucional, enquanto dota a maioria do dinheiro que destina no OE para a habitação para a banca, enquanto beneficia as actividades especulativas em vez de beneficiar as necessidades da população.

Os sucessivos Governos desde o 25 de Abril têm sido perfeitos a jogar às escondidas no que diz respeito à habitação. Mas enquanto forem reféns das directrizes de Bruxelas sobre os défices e o investimento público, e enquanto privilegiarem a especulação financeira e imobiliária, o problema não se resolve. Mas será que querem?

02/04/2021

Do populismo (II)

Consta que o PSD está inclinado para o facilitismo e o populismo, considerando uma cronista do crime para cabeça de lista na Amadora. Seria uma escolha tudo menos inocente, dominada pelo calculismo político do mais nojento que há.

A escolha não seria feita para disputar a Câmara. Com pouquíssimas hipóteses de vitória, a ideia, claro, era disputar os votos e os temas do Chega, com ódio, boçalidade, divisão, com soundbytes inflamados. O primeiro treino para uma mudança de postura que o Rui "Não Há Racismo Em Portugal" Rio fará para se manter relevante.

A acontecer, é muito grave. Não tenho nem nunca tive qualquer simpatia pelo PSD. Mas não deixa de me causar espanto que um partido saído do 25 de Abril sequer considere entrar em narrativas dúbias por mero calculismo eleitoral. E por não perceberem que nem sempre o que fala mais alto tem razão.